“Menina,
fica quietinha, senão o lobo mau vem te pegar!”
Quem
não teve alguém em sua infância que lhe fizesse tal ameaça com a cara mais
cândida do mundo?
“Estou
avisando! Quem avisa amigo é! Se não se comportar, ele vem lhe pegar!”
“Mas
você não pode espantar ele, vovó?”
“Ele
é muito forte e bravo! Não posso fazer nada! Só lhe avisar!”
E a
criaturinha fazia o que lhe mandavam sem pestanejar!
Bem...
Há
menininhas mais espertinhas que, mais cedo ou mais tarde, percebem que toda vez
que querem que elas aceitem quietinhas algo que elas detestam o lobo mau é
lembrado. Às vezes, elas “fazem escondido” e enganam o lobo mau – sacam que, no
mínimo, ele não é tão esperto quanto as vovós dizem. As menininhas acabam
chegando lá: compreendendo que o lobo mau que a vovó diz temer, na verdade, é o
melhor aliado da velhinha quando a mesma quer empurrar aquela comida horrorosa
goela abaixo da menininha: “É pro seu bem, meu amor!”
As
menininhas crescem e descobrem que no mundo muita gente quer lhes tratar como
lhes tratavam suas avós – invocando o famigerado lobo mau.
Bem...
Em
geral, diferente do tempo com as vovós, jamais é para o bem delas... E, mesmo
que alguém nisto acreditasse – que é para o bem das menininhas –, elas sabem
que a escolha sobre o seu próprio bem é delas, de cada uma delas...
Ex-menininhas
podem ficar muito... muito zangadas por causa disso, por lhes infantilizarem...
por lhes considerarem tolas o suficiente para crerem no todo poderoso lobo
mau... sobretudo por lhes considerarem incapazes de escolhas próprias.
Dá
para entender?
Marx,
aquele pensador barbudo do século XIX que muito influenciou o século XX, tantas
vezes invocado – para o bem ou para o mal –, diz muito bem dito, no seu “O
Dezoito Brumário de Luís Bonaparte”, que em tempos críticos os fantasmas
emergem de suas tumbas e assombram os humanos. Um tempo, um povo, uma pessoa...
todos temos os nossos fantasmas com os quais nos havemos em sonhos ou
pesadelos, dormindo ou acordados. Quando nossos pés tocam um novo solo, nossos
fantasmas se agitam, provocados por nossas justificadas inseguranças. Não raro,
espertos ilusionistas agenciam os fantasmas alheios a seu serviço – chamam
nosso “lobo mau” e nos põem a serviço deles, dos ilusionistas. Cabe a nós, a
todos e a cada um de nós, apreendermos a lidar com nossos fantasmas, não deixar
que eles nos arrastem com eles para suas tumbas.
Sendo
assim, cuidado consigo mesmo. Fique atento ao que mora nas sombras!
Nas
sombras em você!
ISABEL
GUIMARÃES
INVERNO
DE 2013

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