domingo, 23 de outubro de 2011


Preciso de um pedaço de papel
onde a palavra ganhe corpo,
carne,
onde a palavra ganhe cheiro.
Quero cobrir-me de letras, palavras,
abrigar-me.

Preciso da luz de uma única vela,
que ilumine sem gritar,
que aqueça sem queimar.
Uma luz cálida, amarela,
em que o corpo da palavra se proteja, se revele.

A chama quieta,
o claro-escuro da noite à luz de vela,
de uma única vela.
Os sons da noite,
a caneta a correr pelo papel (que resiste),
a respiração da palavra,
a respiração de minha mão,
o gesto,
a cópula
em quase silêncio.
Minha mão,
a caneta,
o papel,
o desenho da palavra,
corpo silencioso
à luz de uma vela,
uma única vela.

Preciso - impreciso sentido -,
quero,
busco (arrisco)
abrigar-me no corpo da palavra,
apesar de sua imprecisão.
Ou talvez, outra vez, justo por ela,
pelo amor implícito em sua aceitação.
Não precisa ser precisa.
Apenas preciso de seu corpo.
Quero copular com a palavra,
seu corpo,
sua beleza,
à luz de uma única vela,
luz cálida, amarela.

Nenhum comentário: