sexta-feira, 12 de março de 2010
noturno
Naquele tempo, eu tantas vezes desejei que a noite não acabasse em dia. Que continuasse em uma escuridão perpétua. Podia ser um pesadelo, mas eu não desejava que a luz me cobrasse razão. Eu não gostava que a claridade gritasse o óbvio aos meus olhos. Preferia viver na quase arte do sonho. Mas a manhã não tinha a menor consideração por meus desejos. O tempo ria. E, triste, eu acordava sem a perspectiva da sua presença. Às vezes, seu corpo adormecido ao meu lado era um imenso mistério. E eu tentava não acordá-lo antes do fim do dia. Mas nunca tive sucesso. E, triste, eu me percebia sem a perspectiva da sua presença. Sem saber em que pesadelo eu tinha permanecido. Às vezes, a noite era uma busca infinda. Às vezes, era fuga da minha imagem refletida no espelho do dia. À noite, via uma feroz harpia. Sob a luz, percebia uma cicatriz nova, uma ínfima ruga, um fio branco entre os cabelos negros. Minha obra.
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